quarta-feira, 20 de agosto de 2008

QUEIJADAS DE SINTRA


Estão cada vez mais pequeninas, mas continuam populares e saborosas. No séc XIII, já serviam para pagar foros...
Para o investigador Tude Martins de Sousa, que foi director da colónia penal de Sintra na primeira metade do séc. XX, existem referências às queijadas utilizadas no pagamento de foros desde o distante ano de 1227. Reinava então D.Sancho II, o Capelo, e há registo de um foro "de dois moios de pão meado, um carneiro, uma dúzia de queijadas e um púcaro de manteiga" sobre uns casais em Manique e a pagar a S.Vicente de Fora.
Em 1447, ao tempo de D. Afonso V, o foro do Casal dos Tostões, do Convento de Santo Eloi, era de "doze bolos, doze queijadas, doze ovos e um púcaro de manteiga" o Casal dos Sete Sizos, em Rio de Mouro, foi aforado em 1490 por "além de um pão meado, um cabrito, bolos e uma dúzia de queijadas" Sobre um Casal de Queluz Pequeno pesava um foro, também ele a favor do Convento de Eloi "de quatro moios e meio de trigo, dois de cevada, um carneiro, um cabrito, um porco, bolos, queijadas e um púcaro de manteiga".
Todas estas raízes históricas foram indicadas por José Alfredo da Costa Azevedo quando no terceiro volume das suas "Velharias de Sintra"(1980), fez questão de localizar a pátria certa das queijadas. E isto porque, em Setembro de 1952, a Comissão de Festas de Nossa Senhora da Natividade, na vizinha Mem Martins, pblicou um folheto "no qual se inseria, além dos nomes de vários fabricantes daquela terra", um resumo da história das queijadas, começando o autor anónimo do texto por afirmar que o fabricante das afamadas queijadinhas "remontava ao séc. XIX e era originário de Mam Martins" Esta rivalidade ainda persiste e, de um lado e do outro, esgrimem-se argumentos e documentos vários. Uma coisa é certa, é que as queijadas de Sintra continuam bem populares e a servirem de mote a versos tão inspirados como estes, que remontam aos conturbados tempos da implantação da república (1910):

Quando um talassa as comeu
está quase fazendo um ano,
Chegou ao 5 de Outubro
e acordou republicano!

retirado da revista Saberes & Sabores
Do livro "Culinária"; 1928 de António Maria Oliveira Belo (OLLEBOMA) eis o que se encontra sobre a receita das Queijadas de Sintra:
Há nestas queijadas o invólucro e o recheio. O invólucro faz-se com 400 g de farinha de trigo e 120 g a 100 g de água, conforme a farinha for mais ou menos seca. Trabalha-se bem a massa para que fique muito fina e bastante consistente. Estende-se com o rolo de modo a ficar com a espessura de 1 milímetro, corta-se com um corta-massa liso em rodelas de 10 a 12 centímetros de diâmetro, dobram-se verticalmente as bordas de dois centímetros em redondo, dando 4 cortes na periferia da massa, fazendo-se assim uma caixa ou invólucro que se deixa secar ao ar, enchendo-se depois com o seguinte recheio:

1500 g de queijos frescos sem sal algum
12 gemas de ovos
120 g de farinha de trigo
800 g de açúcar branco
60 g de coco ralado
3 g de canela
Esmagam-se os queijos com as gemas e o açúcar e, depois de bem amassados, juntam-se a farinha, o coco e a canela. Estando tudo bem misturado, enchem-se as caixas ou invólucros com o recheio, levando ao forno a cozer. Esta é a melhor fórmula, havendo fabricantes que reduzem as gemas e suprimem o coco e a canela, o que as torna mais inferiores em paladar.

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